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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Uma homenagem a este grande autor que criou asas e voou...

RUBEM ALVES
Os ipês-amarelos


Muitas pessoas levam seus cães para passear; eu levo meus olhos para passear, eles se encantam com tudo


Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava uma escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: "E quem é Rubem Alves?". Um menininho respondeu: "O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...". A resposta do menininho me deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são aquilo que elas amam.
Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Encantam-se com tudo. Para eles o mundo é assombroso. Gosto também de banho de cachoeira (no verão...), da sensação do vento na cara, do barulho das folhas dos eucaliptos, do cheiro das magnólias, de música clássica, de canto gregoriano, do som metálico da viola, de poesia, de olhar as estrelas, de cachorro, das pinturas de Vermeer (o pintor do filme "Moça com Brinco de Pérola"), de Monet, de Dali, de Carl Larsson, do repicar de sinos, das catedrais góticas, de jardins, da comida mineira, de conversar à volta da lareira.
Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Meus olhos se espantam com tudo que veem.
Sou místico. Ao contrário dos místicos religiosos que fecham os olhos para verem Deus, a Virgem e os anjos, eu abro bem os meus olhos para ver as frutas e legumes nas bancas das feiras. Cada fruta é um assombro, um milagre. Uma cebola é um milagre. Tanto assim que Neruda escreveu uma ode em seu louvor: "Rosa de água com escamas de cristal...".
Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes, que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver.
Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo os textos que escrevo. Os adolescentes que parariam desanimados diante de um livro de 200 páginas sentem-se atraídos por um texto pequeno de apenas três páginas. O que escrevo são como aperitivos. Na literatura, frequentemente, o curto é muito maior que o comprido. Há poemas que contêm todo um universo.
Mas escrevo também com uma intenção gastronômica. Quero que meus textos sejam comidos pelos leitores. Mais do que isso: quero que eles sejam comidos de forma prazerosa. Um texto que dá prazer é degustado vagarosamente. São esses os textos que se transformam em carne e sangue, como acontece na eucaristia.
Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Violência em São Paulo: problema individual ou questão social?!?


Alguns dias atrás uma amiga me repassou uma mensagem (que deve estar circulando nos e-mails de muita gente por ai) intitulada: “Polícia Militar em LUTO”, que tratava sobre a violência em São Paulo nos últimos anos, sobre o número de pessoas mortas e, sobretudo, policiais. A mensagem tinha imagens muito fortes e fazia uma dura crítica aos direitos humanos, como se estes só defendessem bandidos. O texto incita certa revolta e desejo de vingança contra os marginais, apoiando a diminuição da maioridade penal para os 16 anos e a pena de morte. Foi então que eu, com certo impulso, resolvi  responder com a seguinte mensagem, que gostaria de compartilhar com todos.

“Oi Amiga. Fiquei chocada com esta mensagem que você me mandou, sei que a violência em SP não melhorou nada nos últimos anos, 
pelo contrario, só tem piorado. Por isso, queria compartilhar uma reflexão que tenho feito sobre o assunto: antes de pensar em como "remediar" a violência, deveríamos preveni-la, exigindo políticas sociais mais eficientes, que ofereçam educação, saúde, trabalho e perspectivas para os nossos jovens. Se a nossa cidade fosse mais justa, se não houvesse tanta ganância, trafico e falta de valores, talvez as coisas fossem um pouco diferentes. Isso não é apenas uma escolha individual, mas também depende dos nossos poderes públicos garantir direitos básicos para que as pessoas possam construir suas vidas com dignidade.
Mas não posso simplesmente concordar com certas posturas que estão tentando difundir para amenizar os efeitos desse caos. Diminuir a  maioridade penal e destruir os direitos humanos não vai resolver nada disso. Ninguém disse que os policiais não são humanos, entendo que os direitos humanos existem para evitar abusos de poder, pois nós sabemos que isso existe. Direitos humanos não são sinônimo de impunidade.
Pois antes de ser policial, bandido, culpado ou inocente nós somos todos seres humanos. Não podemos dizer que a vida de um vale mais que a vida de outro. Não! A vida tem que ser preservada sempre, nao importa de quem seja. Devemos sim cobrar justiça, mas não sei se matando os bandidos, colocando fogo nos presídios ou algo assim, vamos resolver o problema da violência em SP. 
Na verdade o sistema carcerário no nosso país é uma vergonha, é um “ralo” de corrupção e é totalmente ineficiente pois não consegue reabilitar as pessoas para a vida social... Por isso eu digo que não adianta querer remediar a violência colocando os meninos de 16 anos na prisão, pois eles vão assim virar especialistas do crime. 
Por isso defendo a prevenção, se o mal deve ser cortado pela raiz, então deveríamos acabar com a pobreza, com a exclusão social, com o analfabetismo, ignorância, egoísmo, etc... É algo muito mais complexo e complicado, por isso a sociedade prefere culpar os indivíduos, penalizando-os e lidando com os efeitos mais imediatos da violência urbana, mas não tem interesse em acabar com as causas da mesma. É mais rentável para alguns grupos que a sociedade continue assim... Claro que todos nós sofremos muito com isso... Não defendo a violência em nenhuma hipótese e, sobretudo, condeno a violência com que a sociedade capitalista condena uma maioria de pessoas a viver na pobreza e na exclusão e uma minoria a uma vida de mazelas, ganância, desperdício e corrupção.
Bom, desculpa pelo desabafo, eu gosto de pensar e discutir problemas como este, mas dentro da complexidade que eles tem.”

Espero que este texto inspire mais reflexão sobre o tema...


terça-feira, 21 de agosto de 2012

O caminho da vida


O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.



A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

Charles Chaplin

(O Último discurso, do filme O Grande Ditador)